terça-feira, 19 de agosto de 2014

As crianças e seus medos




Um problema que aflige muitos pais é o medo exagerado que algumas crianças apresentam diante de situações aparentemente inofensivas ou sem importância. Esse problema não é raro e pode ocorrer com qualquer criança, independente do sexo ou da condição social. Alguns desses medos podem tomar proporções realmente exageradas e evoluir para um quadro denominado fobia. No entanto, a maioria dos medos infantis, como o de escuro, de dormir sozinho ou de animais, permanece em níveis controláveis e tende a desaparecer com a idade. A dúvida da maioria dos pais se refere a como esses medos aparecem e o que se pode fazer para ajudar a criança a superá-los.

O medo é um sentimento muito primitivo não só no ser humano, mas também nos animais. É uma reação instintiva de defesa, que prepara o nosso corpo para fugir diante de situações ameaçadoras. Imagine se, diante de um animal feroz, nós não apresentássemos reação alguma e ficássemos tranquilamente observando sua aproximação. Certamente não teria sobrado ninguém para contar a história da humanidade. Nesse sentido, o medo é uma reação essencial para nossa sobrevivência. Ele começa a se tornar um problema quando surge diante de situações que não apresentam uma ameaça real, como a presença de uma borboleta, por exemplo.

Esses medos aparentemente irracionais podem ter diversas causas, e diferentes explicações têm sido desenvolvidas por pesquisadores da área da Psicologia para descrever os mecanismos envolvidos nesses casos. Dentre as possíveis causas para o medo exagerado nas crianças pode-se destacar três. A mais comum é a experiência direta, como, por exemplo, quando a criança é mordida por um cachorro e passa a temer todos os cachorros que aparecem em sua frente, independente do seu tamanho ou da sua aparência. É claro que nem todas as crianças que são mordidas por cães passam a desenvolver esse medo, mas, dependendo da intensidade da experiência e de quanta ansiedade a criança sentiu, há grandes chances de ela passar a apresentar esse medo exagerado. Outra situação muito comum relacionada à experiência direta é o medo inicial de algumas crianças de ir à escola. Um exemplo é o da criança que, já assustada pela novidade da situação (a separação da mãe, o contato com muitas pessoas estranhas, etc.), entra na escola, passa por alguma situação que lhe causa ansiedade (apanha de algum colega, por exemplo) e se sente sem um referencial de segurança. Nesses casos, por melhor que seja a professora, ela é ainda uma desconhecida e a mãe não está por perto. Esse tipo de situação pode gerar muita ansiedade na criança e o medo de voltar à escola.

Uma outra causa para os medos é a observação da reação de ansiedade de outras pessoas diante de determinadas situações. Lembro do caso de uma criança que foi levada para atendimento clínico porque entrava em verdadeiro pânico quando ocorria uma tempestade. Apesar de ela nunca ter passado por nenhuma experiência direta com chuvas fortes, um fato provavelmente contribuiu decisivamente para sua reação diante da tempestade. A mãe relatou que também sentia muito medo de tempestades e que, sempre que elas ocorriam e ela estava em casa com a criança, corria apavorada para baixo da mesa com o filho nos braços. Provavelmente, nesse caso, a criança literalmente aprendeu a sentir medo de chuva ao observar o desespero da mãe.

Uma terceira causa relaciona-se com os pensamentos que acompanham as situações que despertam medo. Muitas crianças, quando vão para uma casa nova, por exemplo, passam a sentir pavor de dormir sozinhas no novo quarto. Elas costumam relatar a presença de monstros no quarto e se recusam a passar a noite lá. Muitos pais encaram isso como uma tentativa de manipulação da criança (e, em alguns casos, é mesmo), mas na maioria das vezes esse medo é real e a criança se sente apavorada porque não consegue controlar os próprios pensamentos no novo ambiente. A situação é mais desconcertante quando se constata, por exemplo, que a mera companhia do irmão mais novo no quarto é suficiente para que a criança durma tranquila. Esse fato mostra que o medo está muito mais relacionado à fantasia da criança do que a algum fator ambiental.

Como já foi mencionado, a maioria dos medos das crianças tende a desaparecer com o tempo. Os pais podem ajudar nesse processo tentando deixar a criança segura diante de situações que lhe causem medo. Se a criança tem medo de cães, os pais podem, junto com ela, brincar com esses animais em situações que não ofereçam risco (filhotes que não mordam e que não assustem a criança com latidos, por exemplo). Um erro comum é o adulto tentar "consertar" o medo da criança fazendo com que ela o enfrente contra a vontade. É o caso do pai que joga no mar a criança que tem medo de água. Esse tipo de atitude não costuma gerar bons resultados porque a criança se assusta muito, entra em pânico e o pai retira-a da água já em completo desespero. Nesses casos, a experiência de "enfrentamento" apenas contribui para aumentar o medo da criança.

Há circunstâncias em que as reações de medo se tornam muito intensas e passam a interferir na vida da criança, como quando ela desenvolve verdadeiro pavor de frequentar a escola. Nesses casos, o mais indicado é os pais procurarem um psicólogo para que seja feito um acompanhamento. Os resultados são bons e podem livrar a criança e seus pais de um sofrimento desnecessário.
   

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